Se eu fosse um lobisomem, tudo, tudo, tudo seria mais fácil na minha vida. Ia devorar, sem sal, no pelo e com fúria todos meus desafetos. E comer o coração, mal passado, de quem eu gosto.
Todos alimentariam a minha condição de mulher loba que uiva para a lua cheia. Com ódio ou amor. Prefiro amor, mas ódio também serve.
Se eu tivesse nascido lobisomem ou me tornasse um a essa altura da vida, nenhum Van Helsing de meia tigela me pegaria. Já tenho experiência em afugentar os que vivem de destruir os outros — basta olhar feio para eles de volta que aí não tem estaca, bala de prata ou drinkzinho que os faça vencer.
Além do mais, os lobisomens sempre estão certos, assim como os chupa-cabras e sacis. Apenas seguem o instinto de serem quem são. Resistentes a temperaturas e condições extremas, vivem bem até em Chernobyl. Podem, então, se adaptar a São Paulo facilmente e gostar dos dias de neblina.
O perigo está nos que fingem ser santos, nos que te pedem calma enquanto levam a sua alma. Botos, fadas e o Mestre dos Magos provam isso. O médium estuprador e a menina de fala mansinha também. Aquela literatura do ensino médio encaixa bem aqui: o beijo é a véspera do escarro, a mesma mão que acaricia é que apedreja, a boquinha que te chupa depois vai lá e te engana.
Se eu pudesse ser uma mulher lobisomem só por uma noite, eu ouviria The Cramps para rasgar as roupas e os corpos dos meus desafetos. Alguns e algumas, no entanto, eu chamaria o demônio em pessoa para que ele os furasse com o garfão enquanto gargalha.
Auuuu.